"Não sei como guardas os teus livros, as tuas notas, e apontamentos, nem quantos tens. Mas se não os mantens com ordem e carinho, é porque ainda não descobriste uma das maiores riquezas que te pertencem. Começa por observá-los como jóias e arranja-lhes um sítio importante no teu meio ambiente. Não os maltrates, não os rasgues nem os deixes tão novos de maneira a que eles sintam saudades do toque das tuas mãos, da passagem do teu lápis ou da carícia dos teus olhos, calando na profundidade.
Esforça-te por ver neles seres vivos, porque as palavras ali escritas não são só signos sem significado. São vozes viventes que recuperam a sua energia na medida em que tu pões a alma na leitura. Se lês com os olhos do coração, as verdades estáticas das linhas e as páginas tornar-se-ão seres inteligentes que estarão ao teu lado para te ajudarem cada vez que necessites. Recordar-te-ão o que vem bem quando sofres ou quando ris, quando duvidas ou quando descobres uma verdade até ao momento escondida. Aconselhar-te-ão em caso de dúvida e desconcerto, ratificarão as tuas boas decisões. Ampliarão a tua visão do mundo. Aproximar-te-ão a outros seres humanos. Incutir-te-ão respeito pelos sábios e amor pelos que sabem menos...
A leitura permite-te estar só enquanto partilhas o teu ser com todo o universo. Ensina-te a estares concentrado sem esforço, com a naturalidade de quem fala com um amigo. Reafirma a memória e restabelece a recordação. Ajusta a disciplina e desenvolve a arte. Dá-te o sentido da ordem e o voo da poesia. Faz dos símbolos gráficos um mundo de pequenas criaturas que convivem dentro de ti e saem fora de ti como vozes sonoras, como uma pequena sabedoria tua e de todos."
Délia Steinberg Guzmán
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